Quem enquanto fotógrafo nunca se deparou com esta pergunta? Tem Photoshop? Ou ainda, tem tratamento? Tem Lightroom? Essas são perguntas que eu sempre respondo com paciência, mas sempre a minha resposta começa com uns segundos desconfortáveis de silêncio, pois minha cabeça passa por milhões de argumentos, histórias e épocas da fotografia até chegar nas palavras saindo da minha boca.

Acho que posso iniciar a resposta com: NENHUMA fotografia é a verdade. NE-NHU-MA. Só aí a pessoa já arregala os olhos pra mim… e aí eu começo a explicar com tranquilidade… 🙂 Qualquer fotografia que seja já é uma interpretação do mundo, o ângulo, a câmera, a lente, o momento, são escolhas de alguém que fez a foto. E depois ainda vem as referencias de vida de quem está vendo a foto, que vai interpretá-la de uma maneira totalmente única. Mesmo fotografias documentais ou de fotojornalismo são interpretações da realidade, que deveriam chegar mais próximo o possível do acontecimento em si, mas possuem as limitações naturais de tudo o que foi citado acima.
A partir daí, me vem à mente a questão da fotografia analógica, que as pessoas tendem a acreditar que era “pura”, sem tratamentos. Lenda. Quem trabalhou nesta época sabe que, além das escolhas anteriores ao clic, o modo de revelação também refletia em como a foto “apareceria”. Mas o mais similar ao que temos de tratamento hoje, considerando mudanças mais drásticas nas fotografias, viria no processo de ampliação da imagem. Brincar com a exposição, luz, sombras e até mesmo tirar e colocar elementos na imagem, misturar mais do que um negativo, eram processos feitos sim, na fotografia analógica. Acontece que, quando a fotografia se popularizou através das câmeras compactas, esse processo de revelação e ampliação foi terceirizado e a maioria das pessoas passou a acreditar que a foto “saía da câmera como foi tirada”, ignorando que o processo continuava acontecendo, mas sem o controle de uma pessoa e sim o processamento de maquinas de revelação, de maneira pasteurizada, automática.

Pois bem, com a fotografia digital, este controle de todo processo voltou para as mãos dos fotógrafos. Profissionais usando softwares de tratamento e para pessoas em geral através de filtros pré definidos embutidos em equipamentos de captura de imagem, sejam câmeras DSLR, Mirrorless ou celulares.
O antigo negativo das câmeras analógicas hoje é nosso arquivo RAW da imagem digital. Que, pasmem, também precisa ser revelado!
Ironias à parte, o arquivo RAW é a maneira de capturar as luzes, que escolhemos para formar uma imagem, de maneira mais eficaz. É com a captura em RAW que conseguimos o maior alcance na captura de diferentes quantidades de luz, do objeto mais escuro ao mais claro. A fotografia em RAW não tem que ser bonita, ela tem que conter maior quantidade e qualidade de informação de luz possível para o fotógrafo trabalhar. O arquivo RAW foi feito para ser revelado. Neste caso utilizamos softwares como Lightroom e Photoshop (Camera raw). Ou seja, hoje em dia a utilização de softwares de tratamento para que fotografa com controle todo do processo é imprescindível. É parte da fotografia.

Dito isso, entramos na parte mais subjetiva da questão…. até “quanto” podemos mexer na imagem até que ela não seja mais considerada “verdadeira”? Bom, 99% das minhas respostas com relação à fotografia começam com: depende.
Depende do “pra quê” você vai utilizar sua imagem.Se é para um livro de identificação de aves, por exemplo, espera-se que as cores sejam
coerentes com a da espécie descrevida, mas ainda assim existem múltiplas maneiras de tratar a imagem sem perder as características do animal. Já se a imagem é para algo que não implica em ser próximo à realidade, aí as possibilidades são infinitas, a criatividade é que manda. Existem muitas imagens que parecem reais e totalmente possível de existirem e que de fato são puramente criadas com tratamento de imagem. Ou seja é muito difícil dizer o que é real ou não.
Resumindo… o bom fotógrafo não é aquele que usa ou não um software de edição, mas aquele que consegue transmitir sua ideia da melhor maneira através da sua imagem e é coerente no que ele mesmo propõe, seja criando algo mais próximo da “realidade” ou criando seu próprio universo.
ps: A primeira imagem que ilustra este texto é uma imagem Raw. As outras duas foram feitas na mesma situação, com as mesmas aves, apenas com fotometrias e tratamentos diferentes e cada uma com diferentes objetivos :). Sim, as duas últimas tem tratamento 😉
Tenha uma boa experiência fotográfica, do início ao fim 🙂
Priscila Forone